quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Boas festas

Vi-me aflito para cortar esta árvore, é bonita! Não acham?
Boas festas para todos os meus amigos.

sábado, 3 de dezembro de 2011

125 Anos

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Escola Industrial e Comercial de Avelar Brotero - Coimbra















A especificidade da Escola Brotero como escola de feição tecnicizante, face à existência em Coimbra de estabelecimentos de ensino secundário liceal, não se limitou a uma diferenciação de cursos. Os seus professores, até então, por disposição expressa superiormente, equiparados em “categoria, prerrogativas e vantagens” aos professores dos liceus, passaram, em 1935, a ficar sujeitos a uma discriminação, por abaixamento de letra, em relação aos seus colegas, mesmo possuindo iguais habilitações. Este facto, aliado ao de, paralelamente com professores, trabalharem na escola os chamados mestres (de oficinas e grafias), com habilitações inferiores e menores vencimentos, e ainda à circunstância de os alunos das escolas industriais e comerciais serem provenientes das camadas mais desfavorecidas da população, levou a que os professores da Escola Brotero fossem considerados de segunda relativamente aos dos liceus da cidade.

Depois, a mudança do sistema tornou a Brotero uma escola secundária equiparada às restantes. Diferenças outrora existentes sumiram-se no limbo da História. Os seus professores passaram a usufruir do mesmo estatuto que os dos ex-liceus. Os mestres foram considerados professores, adquirindo mesmo alguns habilitação de grau superior ou equivalente. A população discente, a pouco e pouco, foi-se substituindo também.

A mudança, contudo, não se ficou por aí. Na verdade, curiosamente, operada a uniformização, um fenómeno bem singular emergiu: na vida real, as posições inverteram-se. O antigo professor de segunda subiu ao topo. Comparativamente, transformou-se num docente de primeira. Diziam os que circulavam – os alunos, pais e professores – que na Brotero se respirava um clima diferente, um clima que passava por uma orgânica diferente e por uma personalidade diferente de professor.

Talvez porque durante anos, ao neutralizar o vilipêndio a que estava sujeito, buscasse compensações num trabalho zeloso, dedicado, consequente, talvez porque a promoção social não constituísse o primeiro móbil do seu esforço, talvez porque a familiarização diária com uma didáctica de cariz prático lhe abrisse mais facilmente as portas da Escola Activa, talvez porque o contacto directo com carências socioeconómicas de toda a ordem o tornasse mais aberto e humano, talvez por praticar desde sempre a coeducação, talvez porque se tivesse democratizado mais cedo, a verdade é que o professor da Brotero era especialmente tido como acessível, despreconceituoso, dialogante, flexível, competente. De grande destreza pedagógica, capaz de chegar muito próximo do aluno. E o certo é que este clima diferente atraiu a si tanto docentes como discentes.

Depois, os anos passaram. O grande impacto também. Imperceptível e paulatinamente, a uniformização estendeu-se e criou raízes. A geração nascida da centenária Brotero foi-se desfibrando. Outras gerações de professores chegaram. E hoje, com o fluir dos tempos e a fusão de novas vivências, os mais antigos entreolham-se e interrogam-se: o coração da velhinha Brotero continuará a bater no peito do seu intérprete maior – o professor?

Quanto a nós, sim! Por um lado, os alunos de outrora parecem querer regressar. Por outro, haverá sempre quem não deixe apagar a chama…«

Maria de Lourdes Figueira




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